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Posse da nova diretoria da Academia Brasileira de Filosofia


No dia 14 de março de 2025 tomou posse a nova diretoria da Academia Brasileira de Filosofia. A posse culminou em um momento de homenagem a todos os técnicos que atuam na ABF, que contou com a honrosa presença do acadêmico Antônio Carlos Secchin, da Academia Brasileira de Letras e do decano da Academia Brasileira de Filosofia, Nelson Mello e Souza. Foram homenageadas com a medalha Antônio Paim as sras. Nélia Macedo, Maria Simone Souza, Flávia do Carmo Pereira e Andréia Alvarenga e, in memorian, Leônidas Hegenberg (1925-2025). E reconhecidas pelo seu trabalho Aline Pessanha e Gabriela Sousa.


Foram empossados os membros titulares: presidente de honra dr. Carlos Nejar (ABL); presidente, dr. Edgard Leite (UERJ e UNIRIO); vice-presidente, dr. Gulherme Wyllie Medici (UFF); chanceler dr. Jorge Trindade (UFP, Porto); diretor de pesquisa, dr. Alberto Oliva (UFRJ); diretor de projetos, dr. Renato Moraes (FMA); diretor de relações internacionais dr. Carlos Frederico Silveira (UCP); diretor de eventos, dr. Sócrates Nolasco (UFRJ).


Trechos do discurso de posse de Edgard Leite Ferreira Neto como presidente da Academia Brasileira de Filosofia. Dia 14 de março de 2025 - Salão histórico da Casa de Osório.


A Academia Brasileira de Filosofia é portadora de uma história significativa e importante, no âmbito das instituições científicas brasileiras. Foi fundada em 1989, mas suas origens estão nas inquietudes intelectuais próprias do período posterior à II Guerra Mundial.


Nos anos que se seguiram a 1945 as ansiedades não satisfeitas ou aniquiladas pelo Iluminismo abriram crises em todo o mundo. Tal desastre, para alguns, como o dr. Jean-François Lyotard, destruíram as crenças nas metanarrativas, nas tentativas de explicações totais. Para outros, reafirmaram certezas anteriores e eternas, pré-iluministas. E, ainda, para muitos, não foram suficientes para desqualificar crenças em diferentes utopias. Há uma Infinitude de ideias surgindo das cinzas de Auschwitz e de Hiroshima, todas buscando entender o mundo, na perplexidade decorrente das suas crescentes carnificinas e grandezas.


A Academia possui uma linhagem intelectual e política que a remete ao Instituto Brasileiro de Filosofia, fundado em 1949, e à sua Revista Brasileira de Filosofia, em 1951, ambas instituições lideradas pelo filósofo e jurista, nosso membro fundador, dr. Miguel Reale. E a substância da nossa instituição está imersa nas angústias que afetaram o pensamento brasileiro a partir daqueles momentos, principalmente entre aqueles que buscavam não apenas encontrar a natureza dos embates entre os sistemas filosóficos, mas também os elos que os uniam: tanto na filosofia universal quanto na nossa filosofia, como bem anotou, certa vez, o dr. Antônio Paim. Porque temos, sim, uma filosofia. A grandeza dessa filosofia, que é brasileira, na expressão de nossa pluralidade cultural e genética, no cenário da crise mundial pós-45, no âmbito geral da tradição intelectual brasileira, nos deu a Academia Brasileira de Filosofia. Na reunião que decidiu pela sua fundação, na Academia Brasileira de Letras, estavam representados os maiores pensadores do seu tempo, de diferentes tendências filosóficas.


É essa grandeza, a grandeza do problema filosófico, tratado por diferentes olhares, mas numa perspectiva de convergência intelectual, nacional, que direciona, no tempo, a nossa instituição. É difícil impedir o desenvolvimento desse projeto virtuoso, porque o sentido da sua proposta é o do reconhecimento da grandeza humana que está em cada pensamento, por mais perplexo que seja, em cada tentativa de resolver o mistério das coisas. Não apenas numa  dimensão universal, mas também brasileira. E por isso estamos aqui.


Nos últimos quatro anos demos continuidade ao esforço de organização e consolidação de dois importantes equipamentos da nossa Academia: sua biblioteca e seu arquivo, elementos para o desenvolvimento de seu futuro, enquanto espaço necessário de produção de conhecimento e lugar de memória dos filósofos que a fundaram e a constituem e de sua obra intelectual.



Demos continuidade também à modernização da Academia Brasileira de Filosofia através de uma reforma estatutária que permitirá a ampliação do corpo acadêmico. Isso será realizado através da criação das categorias de membros notáveis e de membros associados, sem prejuízo da importância e centralidade dos membros titulares, estes, agora, também denominados catedráticos. Igualmente criamos a possibilidade, a exemplo da Academia Brasileira de Ciências, da criação de seções regionais, no nosso caso estaduais, capazes de ampliar, nacionalmente, o impacto da nossa produção acadêmica.


Somos dependentes da memória de nossos fundadores e de todos que por essas 56 cadeiras passaram. Sintetizamos nossa gratidão naqueles que pelo seu esforço foram considerados nossos presidentes perpétuos: o dr. Jorge Jaime e o dr. Antônio Paim. Também saudamos, nos nomes do dr. Ricardo Veléz Rodriguez e da dra. Ana Maria Moog, todos aqueles que se reuniram em 26 de junho de 1989, na Academia Brasileira de Letras, para fundar esta casa.


Também devem ser lembrados aqueles presidentes que se esforçaram para manter vivos nossos objetivos maiores: o dr. Jorge Jaime, o dr. Gerardo de Melo Mourão, o dr. Luiz Sérgio Sampaio, o dr. João Ricardo Moderno e o dr. Jean Yves Beziau. Cabe-nos, evidentemente, uma palavra sobre o dr. Moderno, cujo empenho pela Academia permitiu a cessão perpétua, por parte da União, desse impressionante prédio de duzentos anos, que foi residência do General Osório, quando este foi senador do Império. A história desta edificação vai muito além, no entanto, desse momento de moradia senatorial, e remonta aos eventos da missão artística francesa de 1816. É esta construção um dos mais importantes frutos daquela ação transformadora de nossos costumes arquitetônicos, apoiada pelo rei D. João VI. E muitas descobertas fascinantes e misteriosas têm sido feitas na medida em que avançam nossas pesquisas sobre a história de nossa sede.


Nosso maior respeito também é devido ao nosso presidente de honra, o dr. Carlos Nejar, poeta maior, um dos maiores escritores brasileiros e também membro da Academia Brasileira de Letras.


Devemos nossa reverência a todos os membros da Academia que, de todos os cantos do país, nos últimos quatro anos, não faltaram com apoio e amizade e que, pelo voto, nos mantiveram à frente da instituição.


Cabe anotar que, no dia de hoje, 14 de março, há 100 anos, nascia nosso membro fundador Leônidas Hegenberg, físico e filósofo, especializado em lógica e filosofia da ciência e, não menos importante, tradutor de Isaac Asimov para o português. Honramos sua memória e confirmamos nosso compromisso em preservá-la na nossa Academia.



Nesses últimos quatro anos, muitas pessoas igualmente participaram desse nosso esforço renovador.  Há que se anotar o papel sempre amigo e leal da nossa contadora, sra. Nélia Macedo, que nos acompanha desde a gestão do dr. Moderno. Nos trabalhos emergenciais para tornar o prédio viável, depois de um período de abandono, deve ser anotado o papel pioneiro da arquiteta Noemia Barradas, que coordenou a reforma emergencial da estrutura do telhado e das calhas junto à Aqua Engenharia. No trabalho de salvação da biblioteca e do arquivo, devemos realçar o papel das seguintes empresas: primeiro, a WARP, que lidou com o problema dos arquivos e dos livros no primeiro momento, quando a situação sanitária do prédio estava insustentável. Em seguida, a Zetó Consultoria que continuou lidando com o problema documental e a PontoDoc Assessoria, que seguiu no tratamento da biblioteca Daniel Klabin. Três bolsistas FAPERJ foram imprescindíveis em todo processo; o dr. Jeferson Valadares (filósofo) pelo seu trabalho na organização do catálogo da biblioteca e na pesquisa da produção de membros fundadores; a sra. Laryssa Luz (historiadora), pesquisadora incansável, que vem desenvolvendo intensa pesquisa sobre a Casa de Osório e está muito próximo de descobrir a sua precisa data de construção, inclusive o nome do arquiteto que a desenhou (informações que nem o IPHAN possui); e, por fim a sra. Gabriela Alves (arquivista), agora bolsista da FAPERJ e responsável pela continuidade do trabalho arquivístico. A jornalista Aline Pessanha foi importante auxílio na recuperação da memória de nossos membros titulares. A assistência da sra. Maria Simone Souza foi imprescindível, ao ordenar todos os pagamentos e notas fiscais e manter sob controle todo o processo de gastos.


A liderança de todo esse trabalho deve, em sua dimensão prática, ser atribuído à sra. Fernanda Alves (bibliotecária), que entrou aqui quando só se podia entrar com máscaras, luvas e sob proteção sanitária. Deve também ser anotado o envolvimento e dedicação da sra. Flávia do Carmo Pereira, que projetou e executou, no limite dos recursos, o nosso espaço de memória. E, é claro, e principalmente, devemos realçar o trabalho da sra. Andréia Alvarenga (bibliotecária e arquivista), que extrapolou, em muito, suas atribuições profissionais, envolvendo-se com vários aspectos do funcionamento da instituição e sugerindo soluções para diversos desafios cotidianos.


Estamos hoje lançando o novo site da Academia, reformulado, com o nosso canal do YouTube operacional e integrado às nossas contas no Instagram e no X.


Cabe-me, por fim, dar posse a essa diretoria extraordinária: vice-presidente, dr. Guilherme Wyllie Médici, professor da Universidade Federal Fluminense, um dos maiores estudiosos brasileiros em lógica e metafísica; chanceler, dr. Jorge Trindade, professor da Universidade Fernando Pessoa, em Portugal, especialista internacionalmente reconhecido em psicologia judiciária e um dos nossos maiores psicólogos forenses, também representante do Rio Grande do Sul; diretor de pesquisa, dr. Alberto Oliva, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um dos mais reconhecidos nomes brasileiros no campo da Filosofia da Ciência, das Ciências Sociais e Epistemologia; diretor de relações internacionais, dr. Carlos Frederico Silveira, professor da Universidade Católica de Petrópolis e do Seminário São José, de amplo reconhecimento acadêmico, nacional e internacional, nos estudos do tomismo, metafísica, ética e filosofia medieval; diretor de projetos e secretário-geral, dr. Renato José de Moraes, diretor do Instituto de Filosofia e Teologia da Faculdade Mar Atlântico, reconhecida autoridade em Teoria do Direito, Filosofia do Direito e Direito Civil, em Ética e em História da Filosofia; diretor de eventos, dr. Sócrates Nolasco, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, psicólogo de competência reconhecida em âmbito nacional e internacional, especialista nas áreas de masculinidade, cultura, violência, identidade, comunicação e feminilidade.


É uma grande honra para todos nós estarmos dando continuidade à tradição intelectual de nossos fundadores. Reafirmamos também, hoje, o compromisso maior de restaurar todo o complexo arquitetônico da nossa Academia para consolidar, aqui na Casa de Osório, um centro nacional de referência em Filosofia. E que essa pequena sala de memória seja o embrião de um autêntico Museu do Pensamento e da Filosofia.


As circunstâncias nas quais as pessoas estão inseridas, bem como as ideias que estas tem sobre essas, variam muito. Por isso, a mensagem de nossos fundadores é a de que o mais importante, o mais milagroso, é a pessoa em si, aquela que é capaz de ter as ideias. E essa verdade, a verdade do extraordinário da pessoa humana, inspira nossa meditação. Esta exige a liberdade de pensamento e de expressão. É essa dinâmica que concede, à Academia Brasileira de Filosofia, sua grandeza e relevância no cenário intelectual brasileiro. E estar à altura dessa verdade é nosso imenso compromisso.

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